MURAL DO DESABAFO MOBILIZAÇÃO PELA JUSTIÇA
MOBILIZAÇÃO DA MAGISTRATURA NÃO PELO AUXÍLIO MORADIA, MAS PARA A INDEPENDÊNCIA DESTA. UMA DAS MANEIRAS MAIS FORTES DE OPRESSÃO É PELO PODER ECONÔMICO.
Inicialmente quero dizer que não falo em nome de qualquer coletividade ou associação, mas em meu próprio nome, Juíza Federal Trabalhista, que ingressou na magistratura muito jovem e que já contribuiu com vinte anos de carreira. Ao longo desta presenciei apenas o seu desmonte. Era uma carreira almejada por qualquer estudante de Direito por se independente e fazer realmente a diferença na vida dos cidadãos e do nosso país. É claro que como toda a profissão existem os bons e os maus profissionais, os que fazem a diferença para o bem e também os que fazem para o mal. A magistratura não seria exceção e não vejo ou ouço com tanta frequência ataques a estas outras profissões. É preciso então criar mecanismos para diferenciar o joio do trigo. Não me parece que o caminho seja pelos ataques indiscriminados, orquestrados por quem almeja uma Justiça fraca e servil. Ora, se existem remunerações acima do teto em valores realmente injustificáveis, assim como são injustificáveis outras trabalhadores recebendo salários milionários, alguns até mesmo sem qualquer qualificação, porque vivemos tempos onde os valores estão invertidos, temos que atuar para que estas irregularidades sejam corrigidas. A realidade , contudo, da maioria da magistratura não é nem de longe esta. Não tenho carro do ano, meu veículo único, é de 2011. Tenho um único imóvel próprio, financiado. Assim como a minha, esta é a realidade da grande maioria dos juízes brasileiros. O polêmico auxílio moradia não foi desejado, também, sob esta rubrica. O que os juízes sempre quiseram e nunca foram atendidos é pela observância do direito constitucional, assim como todas as carreiras têm, inclusive da iniciativa privada, do reajuste anual dos seus subsídios (salários ou vencimentos) para que o poder de compra destes não seja reduzido a pó. Uma lei simples, que poderia prever o mero repasse da inflação medida oficialmente já resolveria os nossos problemas. Então, por que é tão difícil a regulamentação deste direito?
A inflação embora pequena e não refletir a realidade do mercado, da conta de luz e de outros serviços públicos, existe, é real. O governo, contudo, ignora que temos tal direito e como não temos um órgão de carreira que nos represente , estamos órfãos. Somos filhos sem pai ou mãe. O que nos resta, portanto, é sair dos gabinetes e travar o diálogo com a população, descortinando a Justiça para que entendam que o que a imprensa divulga como salários marajás não representa a realidade da categoria. Claro, não recebemos o mínimo até porque é leviana tal comparação, estudamos, temos qualificações e ganhamos bem menos do que executivos de grandes empresas, âncoras do jornalismo e apresentadores de televisão. Estes, sim, percebem todo tipo de benefício indireto, inclusive FGTS e participação nos lucros. Não temos e não podemos ter outra atividade, nem a instrução podemos transmitir como legado.