ADRIANA PAULA DOMINGUES TEIXEIRA

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL EM UM UNIVERSO MECÂNICO: devemos nos preocupar ? Há perigo para o ser humano?

 Embora o tema não seja atual, pois desde a década de 50 muito se discute sobre a inteligência artificial e a possibilidade da criação de  máquinas capazes não apenas de seguir uma programação, mas, a exemplo do homem, criarem pensamentos, a polêmica atual decorre do impacto no âmbito do mundo do trabalho e social pelos avanços tecnológicos vertiginosos das últimas décadas. O teste de Turing foi idealizado em 1950, tendo a ambição que uma máquina pudesse passar despercebida como um humano, com comportamento equivalente a este, o que ainda não foi concretizado.

 A força da inteligência artificial na década atual se deve aos avanços da computação, surgindo a denominada 4ª Revolução Industrial, onde se permite a substituição do homem pela máquina em operações repetitivas, mecânicas, o que vem sendo feito com um desempenho favorável para as empresas ante a redução de custos e aumento significativo da produtividade, especialmente na área de telemarketing. Com isto o investimento na área da tecnologia da informação passou a ser decisivo para a competitividade nas empresas, com a valorização de novos postos de trabalho,  novas carreiras e aumento significativo da retribuição destes empregados.

De outra parte, há o dilema ético e social de que a utilização em larga escala destes computadores , que produzem bem mais do que o ser humano, levará a substituição de muitos postos de trabalho e a condenação de uma parcela considerável da população a um estado permanente de desemprego. Estima-se que até 2050 80% das atividades realizadas por humanos serão automatizadas, tendo por consequência um inevitável remodelamento do mundo das profissões como hoje o conhecemos. 

Tal realidade, contudo, nos coloca de fato em perigo. Seremos substituídos pela própria criatura? Acho que a resposta é instigante. Primeiro,  porque implica no conceito de qual ser humano corre o risco de ser extinto ou substituído. Segundo, porque nos impõe a reflexão, talvez não pela consciência, mas pela necessidade premente de sobrevivência em um mundo tão líquido quanto artificial, onde a realidade supera muito a ficção, que tipo de ser humano somos atualmente ?

A inteligência artificial procura imitar a inteligência do ser humano, que se diferencia dos outros seres, pelos atributos da humanidade, como a lógica, os valores, as emoções, o senso de justiça e de fraternidade. Mas o que significam esses atributos ? Atualmente, os humanos nunca foram tão parecidos com as máquinas. A ironia é que as máquinas é que estão a reproduzir um ser humano não mais existente, sendo comum a relação íntima entre homens e assistentes pessoais de inteligência artificial. Há mais lógica e autenticidade nestas relações do que nas humanas. Muitos desconhecem por completo os atributos da humanidade e a carregam apenas pelo rótulo. Não são humanos, são apenas máquinas sob a roupagem humana. Para estes não há dúvidas que a 4ª Revolução Industrial irá implicar em perdas e extinções de toda a ordem. Não existirão mais postos de trabalho para trabalhos mecânicos, sem qualquer pensamento, razão, lógica ou emoção. O diferencial é mesmo a capacidade de evolução, de conhecimento próprio e de uma visão mais coletiva, fraterna do mundo, aprender não apenas para o desenvolvimento próprio e individual. Atributos como senso de justiça, criatividade, capacidade de interpretação são ínsitos do ser humano e dificilmente uma máquina terá a autonomia de reproduzí-los, sem a participação direta do humano.

Logo, a resposta a este indagação está dentro de nós. Que tipo de humanidade estamos construindo ?  A de robôs ou de seres essencialmente humanos, com os seus atributos em potencial desenvolvidos em sua plenitude ?

A máquina substituirá, com melhor desempenho, o ser humano que se limita a desenvolver atividades programáticas, sem nenhuma análise do significado, afinal a capacidade de memorização de um computador é infinitamente superior a do homem. Contudo, um robô jamais terá em seu arquivo as lembranças dos sentimentos, as vivências e significados de cada palavra arquivada na memória. Por isso é essencial que possamos aproveitar esta discussão para reflexão de quais são os atributos do ser humano, de maneira a utilizar a tecnologia a nosso favor como instrumento de desenvolvimento e superação.

O mundo atual está repleto de seres robôs, que nem sequer têm a consciência desta condição. O aperfeiçoamento contínuo, o resgate dos atributos da condição humana é medida urgente, que não podemos relegar para o futuro sob pena de sermos extintos pela criação.